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sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Nise da Silveira > 1905 - 30/10/1999



Três desenhos a guache - criação plástica - acervo da Casa das Palmeiras

O Tema Mítico do Deus Sol

Nise da Silveira – Eternas saudades!
Imagens do Inconsciente, p. 315
– 1981, Alhambra, RJ.

O sol simboliza, na psicologia junguiana, ‘o ego e seu campo de consciência’. A personificação do ego sob a forma do ‘corpo refulgente do sol’ decorre de ser o ego o ponto de referência central da consciência e de sua função criadora do mundo como objeto (Jung, C. G. – C. W. , 14, 108). É assim que o sol, direta ou indiretamente, está presente em múltiplas versões do mito do herói, quando esta, depois de vencer os monstros das travas, saindo de uma condição de semi-inconsciência, consegue trazer a realidade para a luz da consciência, recriando o mundo.
No mesmo sentido pesa a opinião de Mircea Eliade que afirma a existência de paralelismo entre hierofanias solares e o desenvolvimento do racionalismo. Somente no Egito, onde floresceu uma alta civilização, o culto do sol propriamente dito alcançou verdadeira predominância. E na América, foi no Peru e no México, isto é, entre os únicos povos desse continente que atingiram autêntica organização política, que o culto do Sol chegou ao apogeu. Teria havido, pois, concordância entre a supremacia das hierofanias solares e o
desenvolvimento histórico (Mircea Eliade – Traité d’histoire des Religions, p 115. Payot, paris, 1968).
Mas acontece igualmente que o sol, pela magnitude de seus atributos específicos, impõe-se como símbolo do self, ou seja, do centro ordenador da psique, bem como da totalidade psíquica. E ‘o self é a imagem de Deus ou, pelo menos, não pode ser distinguido dessa imagem’ (Jung, C. G. – C. W., 9ii, 22). Self, imagem de Deus, sol, acham-se em estreita correlação.
O sol aparece como símbolo da imagem de Deus, não só na antiguidade pagã mas também no cristianismo.
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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

O Tema Mítico do Dragão-Baleia

Guache - J.

O dragão-baleia em imagens

Nise da Silveira / Imagens do Inconsciente (pg.191)- 1981, Alhambra, RJ.

“O tema mítico da viagem e do encontro com o monstro marinho é como todos os temas míticos ‘a expressão de dramas interiores inconscientes’ (Jung, C. G. - C.W. 9, 6).
O drama do encontro com o monstro exprime a situação perigosa para o indivíduo de ser tragado pelo inconsciente, representada na imagem do risco de devoramento pelo enorme animal habitante das profundezas do mar. Quando, sob o impacto de afetos intensos, o inconsciente se reativa em proporções extraordinárias ameaçando submergir o ego consciente, não e raro que se configurem monstros nas matrizes arquetípicas de onde têm emergido figuras semelhantes no curso de milênios.
Descendo às entranhas do monstro, isto é, ‘ao substrato psíquico, este escuro reino do desconhecido exerce atração fascinante que se torna tanto mais perigosa quanto mais o herói penetra em seus domínios’. Ele corre o perigo de ficar ‘prisioneiro no mundo subterrâneo do fundo do mar exposto a toda espécie de terrores’. Esta terrível experiência psicológica estimulará e renovará o herói que por fim conseguirá vencer o monstro. Outros sucumbem, resultando da derrota ‘a desintegração da personalidade em suas componentes – funções do consciente, os complexos, fatores herdados, etc. Desintegração que poderá ser transitória ou mesmo uma verdadeira esquizofrenia’(Jung, C. G. – C. W. - 12, 320).
Nos mitos, diz Jung, ‘o herói é aquele que conquista o dragão, não aquele que é vencido. Mas ambos defrontam-se com o mesmo dragão’(Jung, C. G. – C. W. 14,531).
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terça-feira, 27 de outubro de 2009

Dia 30 de outubro

Com 10 anos de muitas saudades, dia 30 deste mês de outubro, estaremos na Casa das Palmeiras realizando um singelo encontro lembrando nossa queridíssima
Nise da Silveira.
Às 15h30 um lanche informal seguido de homenagem ecumênica realizada pelos clientes, estagiários, colaboradores e amigos que possam estar presentes.

Nise vive no coração do mundo!
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quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Imagens do Inconsciente

De nossa eterna e viva Nise (15/02/1905 – 30/10/1999)

“O estudo das imagens que se originam nas matrizes arquetípicas do inconsciente coletivo é uma verdadeira pesquisa arqueológica. Mas a arqueologia da psique é ciência muito peculiar. Enquanto os achados da arqueologia, propriamente dita, mantêm-se sempre iguais, os conteúdos do inconsciente coletivo estão em constante movimento; agrupam-se e reagrupam-se, interpenetram-se e mesmo são susceptíveis de transformações. Esta é a concepção junguiana de inconsciente coletivo, concepção essencialmente dinâmica”.

Nise da Silveira
Imagens do Inconsciente Ed. Alhambra, 1981 - RJ.
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terça-feira, 20 de outubro de 2009

Minha vida na Casa da Solidão

Nise da Silveira – Texto do artigo publicado na revista Manchete,
Rio de Janeiro, 10 jun. 1967.

“Sempre me pareceu inteiramente sem importância fazer um diagnóstico e pôr um rótulo numa pessoa.
Esquizofrenia...esquizofenia...esquizofrenia. Isso não diz nada. O fundamental é o encontro com aquela pessoa. A certa altura, me pareceu que a esquizofrenia não é uma doença propriamente dita, com as características clássicas das doenças. A esquizofenia resulta de cisões internas com o mundo exterior, causadas por situações externas, demasiado fortes para certos indivíduos. São eles, na maioria, frágeis para suportar o que nós outros suportamos – talvez até por serem melhores do que nós”.
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sábado, 17 de outubro de 2009

Entrevista com Nise da Silveira (1905 -1999)


Do Caralampismo à Emoção de Lidar -
Uma abordagem não ortodoxa da esquizofrenia

Revista Ano Zero / setembro de 1991 – RJ.
Trechos:

Ano Zero – Dra. Nise, Artaud dizia que “o ser tem estados inumeráveis e cada vez mais perigosos”. A esquizofrenia seria uma doença ou um estado do ser?
Nise da Silveira – Um estado do ser.
(...)
AZ – Um dos seus pacientes...
NS – Nada de pacientes! As pessoas.
(...)
AZ – A senhora se refere à esquizofrenia como um mergulho profundo. A cura seria resgatar o indivíduo deste mergulho, reestabelecendo seus contatos com a realidade?
NS – Certa vez um rapaz esquizofrênico, que já estava em situação razoável, na Casa das Palmeiras tinha dúvidas “Eu vou me curar?” Eu lhe perguntei o que ele chamava de cura e ele me respondeu que estar curado seria voltar ao trabalho. Ele era escriturário e eu lhe disse: “Nem sonhando! Eu quero que você seja muito mais do que um escriturário”.
(...)
AZ - A Casa das Palmeiras não tem escriturários?
NS – Não. (...) A casa não visa lucros comerciais, não é uma fundação, não tem convênios e nem os quero. No Jornal O Estado de São Paulo saiu algo engraçado, mas verdadeiro, o que é raro em jornal. Publicaram o meu retrato, dizendo: “Ela prefere ser uma loba faminta a um cão na coleira”.
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sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Nise vive

Dia 30 de outubro 2009 comemoram-se os 10 anos da morte de nossa querida e eterna Nise da Silveira (1905 – 1999).

Em sua memória transcrevemos belíssimo texto da Carta VII, de sua obra
(esgotada) Cartas a Spinoza,
pgs. 105, 106. Livraria Francisco Alves Editora, 1995, RJ.

Além dos dois gêneros de conhecimento, experiência vaga e conhecimento racional de idéias adequadas, você descobriu um terceiro gênero de conhecimento: a ciência intuitiva, que “progride da idéia adequada da essência das coisas” (E., II, XL, ESCÓLIO 2). E é por meio desse terceiro gênero que será feita a escalada até o cume da sua “montanha de cristal”.
De ordinário concebemos as coisas em relação a um certo tempo e a um certo lugar, mas, através do terceiro gênero, passamos a concebê-las contidas em Deus, ou seja, sob a espécie da eternidade (E.,V, XXIX). Tudo fica diferente concebido sob este aspecto. E muito superior ao conhecimento pelo primeiro ou segundo gênero, aos quais estamos habituados. Este terceiro gênero conduz ao conhecimento da essência das coisas, proporcionando ao espírito ampliação da sua parte eterna, grande alegria e capacidade para um amor liberto de quaisquer sentimentos espúrios ou egoístas, amor que não poderá ser destruído por nenhuma
força da natureza (amor intelectual).
Agora você vai permitir que eu me detenha, com sua ajuda, frente ao emocionante tema da morte.
Começo relembrando suas palavras
: “Uma vez que os corpos humanos são aptos a um grande número de ações, não é para duvidar que possam ser de tal natureza que estejam unidos a espíritos possuidores de grande conhecimento deles próprios e de Deus, em cuja maior ou principal parte seja eterna. Por conseqüência, não terão medo da morte” (V, XXXIX). A parte que perece com o corpo não terá nenhuma importância comparada à parte que persiste (E., V, XXXVIII). Aliás, você já havia dito em E., IV, LXVII: “O homem livre em nada pensa menos que na morte, e sua sabedoria é uma meditação não sobre a morte, mas sobre a vida”.
Perdoe-me todas estas citações; elas visam a reavivar em mim idéias que me impressionaram, e não para você, é óbvio.

(E. Ética de Spinoza – “Breve Tratado” in Oeuvres Completes. Paris, Gallimard, 1954).
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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Origem do nome Casa das Palmeiras


"(...) Logo começamos a elaborar as normas da nova instituição: Maria Stela Braga, psiquiatra, Belah Paes Leme, artista plástica, Ligia Loureiro, assistente social, e Nise da Silveira, psiquiatra. Para isso nos reuníamos no ateliê de Belah, e foi ela quem encontrou o título CASA DAS PALMEIRAS, visto que o casarão da Rua Haddock Lobo possuía em seu jardim de frente um grupo de belas palmeiras. Assim evitávamos dar à renovadora instituição um nome que de alguma maneira aludisse às doenças mentais, tão discriminadas socialmente.
Com a presença de alguns psiquiatras e numerosos amigos, foi inaugurada a Casa das Palmeiras no dia 23 de dezembro de 1956. A Casa, uma instituição sem fins lucrativos, começou a funcionar imediatamente. Permanecemos no prédio do antigo Colégio La-Fayette até 1968.”
( Nise da Silveira – Casa das Palmeiras, Emoção de Lidar, 1986).

Em 1968 a Casa foi transferida para a Rua D. Delfina nº 39, Tijuca, permanecendo neste aprazível local até 1981, quando mudou para a Rua Sorocaba, 800, Botafogo (foto), onde permanece atuante e fiel aos métodos fundamentados por sua idealizadora e fundadora, Nise da Silveira (1905 – 1999).
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