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sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Nise vive

Dia 30 de outubro 2009 comemoram-se os 10 anos da morte de nossa querida e eterna Nise da Silveira (1905 – 1999).

Em sua memória transcrevemos belíssimo texto da Carta VII, de sua obra
(esgotada) Cartas a Spinoza,
pgs. 105, 106. Livraria Francisco Alves Editora, 1995, RJ.

Além dos dois gêneros de conhecimento, experiência vaga e conhecimento racional de idéias adequadas, você descobriu um terceiro gênero de conhecimento: a ciência intuitiva, que “progride da idéia adequada da essência das coisas” (E., II, XL, ESCÓLIO 2). E é por meio desse terceiro gênero que será feita a escalada até o cume da sua “montanha de cristal”.
De ordinário concebemos as coisas em relação a um certo tempo e a um certo lugar, mas, através do terceiro gênero, passamos a concebê-las contidas em Deus, ou seja, sob a espécie da eternidade (E.,V, XXIX). Tudo fica diferente concebido sob este aspecto. E muito superior ao conhecimento pelo primeiro ou segundo gênero, aos quais estamos habituados. Este terceiro gênero conduz ao conhecimento da essência das coisas, proporcionando ao espírito ampliação da sua parte eterna, grande alegria e capacidade para um amor liberto de quaisquer sentimentos espúrios ou egoístas, amor que não poderá ser destruído por nenhuma
força da natureza (amor intelectual).
Agora você vai permitir que eu me detenha, com sua ajuda, frente ao emocionante tema da morte.
Começo relembrando suas palavras
: “Uma vez que os corpos humanos são aptos a um grande número de ações, não é para duvidar que possam ser de tal natureza que estejam unidos a espíritos possuidores de grande conhecimento deles próprios e de Deus, em cuja maior ou principal parte seja eterna. Por conseqüência, não terão medo da morte” (V, XXXIX). A parte que perece com o corpo não terá nenhuma importância comparada à parte que persiste (E., V, XXXVIII). Aliás, você já havia dito em E., IV, LXVII: “O homem livre em nada pensa menos que na morte, e sua sabedoria é uma meditação não sobre a morte, mas sobre a vida”.
Perdoe-me todas estas citações; elas visam a reavivar em mim idéias que me impressionaram, e não para você, é óbvio.

(E. Ética de Spinoza – “Breve Tratado” in Oeuvres Completes. Paris, Gallimard, 1954).
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