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sábado, 16 de abril de 2011

Afeto catalisador






R. - Desenho com lápis cera 25 x 45 cm, março de 2011.


O que caracteriza o afeto catalisador como processo terapêutico? Como se dá? O terapeuta ocupacional, catalisador, se faz com a presença silenciosa, emoção de lidar, afetuosa, de alguém para manter-se ao lado de uma pessoa, cliente, que necessite de ajudar para retornar à vida normal, cotidiana com tranquilidade. Dar ao ser dilacerado internamente o reconhecimento de ser aceito e querido como pessoa. Alguém que possa ajudar cuidadosamente a quem não pode se expressar, que necessite emergir das profundezas, labirinto, onde se perdeu no mar do inconsciente; que necessite de meios eficazes, alguns recursos, para fazer a viagem de volta à realidade. As atividades expressivas são as mais recomendadas.


Atividades como modelagem, desenho, pintura, bordado, tricô, crochê são caminhos certos para reencontro com o bem estar emocional e psíquico, assim como a colagem, música, teatro, poesia, expressão corporal, mímica, jardinagem e outros recursos que tenham as mãos, o corpo, para engendrarem as emoções que emergem do inconsciente.

A encadernação, o corte e costura ou a culinária podem ser caminhos. O terapeuta catalisador é alguém que afetivamente, saiba ajudar quem não consegue sair do labirinto onde foi mergulhado, e permanece imerso na vida inconsciente sem saber como retornar à vida real, consciente.


O experiente ou mesmo o jovem terapeuta será sempre aquele que “sem medo do inconsciente veste o escafandro”, tão recomendado por Nise da Silveira, e mergulha cuidadosamente, a fim de ajudar o ser fragilizado que precisa de presença firme para se reorganizar e retornar à vida cotidiana. A atitude do monitor é não verbal, é não intervir, não dar opiniões sobre o trabalho que está sendo feito. Apenas manter-se em silêncio numa atitude de acolhimento afetivo. Nos ateliês acompanhar, silenciosamente, o momento da criação, o momento do processo criativo, as expressões, as manifestações que vão surgindo aos poucos do mundo interno para o externo é fundamental para se obter as mais ricas respostas terapêuticas.


As atividades que emergem das profundezas do inconsciente pedem silêncio para dar espaço ativando a imaginação, para se obter certa organização interna e permitir que o ato criador possa se expressa em imagens; atividades plásticas, música, poesia, teatro, expressão corporal, etc.


Sem uma boa dose de silêncio não há possibilidade de expressões genuínas emergirem do mundo interno para o externo. Do silêncio interno surgem as imagens do inconsciente, e sempre carregadas de emoções fortes e intensas, muitas vezes expressas no crispar da fisionomia, no olhar, na postura corporal, nas palavras ou gestos. Basta um sorriso acolhedor e ajuda quando necessário. Basta estar presente e em silêncio. Basta acolher o outro com afeto sem exuberâncias, de preferência com sobriedade.


Dra. Nise sempre mostrava a importância do não verbal, do silêncio atento, da presença afetiva, ao lado do cliente, e, ajuda apenas quando necessário; “Observar sempre e anotar, depois, o essencial”. As imagens que emergem do inconsciente são a história viva verdadeira de uma pessoa. Fundamento para o conhecimento profundo da natureza de seres enigmáticos que não devem ser rotulados, e sim vistos como “pessoas que vivem estados alterados do ser”, como frisava a mestra Nise da Silveira

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Referência: Imagens do Inconsciente – Nise da Silveira, pág. 50/66 a 91 – Ed. Alhambra, Rio de Janeiro, 1981 (esgotado / procurar em estante virtual)

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