Rua Sorocaba 800, CEP 22271-100, Botafogo, Rio de Janeiro, Brasil.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Hino à Casa das Palmeiras


                 Hino à Casa das Palmeiras

Autoria de: José Bastos e Eneida de Paiva

São as flores e mais Flores renascendo
Que perfumam a Casa das Palmeiras
Onde nascem com vida e alegria
E a ciência é uma oração profunda
Salve, salve a Casa das Palmeiras
Onde os anos se passam com amor
Como o rio que corre para o mar
Nossos corações buscam só amar, só amar.
_________

Atividade música/musicoterapia na Casa das Palmeiras 
          Todos gostam de ouvir música, direta ou indiretamente mergulham em sua sonoridade; ritmo e melodia. A música como processo terapêutico ocupacional foi um dos primeiros trabalhos cultivados na Casa das Palmeiras, por orientação de Nise da Silveira. Ouvia-se música popular, regional e clássica. Ouvindo música se trabalhava, ocasionalmente, nos ateliês de desenho e pintura. O efeito da música sobre o emocional é bastante conhecido. Atualmente, dois dias na semana estão dedicados especialmente à expressão musical.
         Aqui, hoje, abordaremos a atividade de Musicoterapia, que ocorre nas sextas-feiras, às 15h30, como possibilidade de se vivenciar experiência de catarse ou mesmo de criação. Pessoas que em outras atividades não conseguiam colocar imagens alem do caos, nos improvisos musicoterápicos criam nuances rítmicos e trilhas sonoras de alta qualidade.
        O trabalho de musicoterapia na Casa das Palmeiras é desenvolvido no salão principal da casa. O coordenador desta atividade das sextas-feiras é o musicoterapeuta Durval da Costa. Ele organiza, com a participação de todos, uma roda com cadeiras, com mesas no meio, onde são colocados instrumentos; violão, flauta, pandeiro e outros variados de percussão. Sobre a mesa folhas com músicas e partituras, revistas e livros musicais, de diversos autores, que são utilizados na atividade, de música livre, onde cada um escolhe o que quer cantar, sem se preocupar com harmonia, afinação ou qualquer outra coisa.
            O trabalho de musicoterapia tem sido desenvolvido em quatro etapas:
         - No primeiro momento é trabalhado um tema, por exemplo: dia das mães, dia do folclore, dia da árvore..., com o tema é trabalhado música, interação social, e o conhecimento do tema, se for o caso.     
        - No segundo momento é trabalhada a música de cada um. No decorrer da nossa vida a música sempre esteve presente, e num determinado momento uma delas nos toca profundamente, e é essa música que é trabalhada.
           - No terceiro momento ensaio de músicas que irão ser apresentadas em eventos festivos da casa.
         - No quarto momento música livre, é o momento que os clientes mais gostam porque cantam aquilo que está no coração.
       A musicoterapia da Casa das Palmeiras não tem nenhuma preocupação com passar técnica musical. Mas sim dar melhor qualidade de vida aos clientes. O processo é espontâneo, estimula a criatividade.
        Durval, pessoa dedicada e pontual, com sensibilidade se empenhou em reencontrar o Hino da Casa. Entusiasmado, solicitou clientes a colaborarem nessa busca até que acharam o Hino guardado entre partituras. Com isto se tem trabalhado, em conjunto, na musicalidade necessária do mesmo. 
         P.S. Frequentam a atividade de musicoterapia cerca de 15 a 17 pessoas - clientes e estagiários.
______________
         Durval colaborou neste texto do Blog onde pontuou sobre sua atividade como musicoterapeuta na Casa das Palmeiras. 
       A Casa tem um piano onde livremente clientes tocam, mesmo com a intenção apenas de se ocupar com a sonoridade, exercícios leves. Eventualmente, audição.
      Para a alegria dos objetivos da Casa das Palmeiras, a terapêutica ocupacional tem sido, desde sempre, a alma de seus clientes, em contínua criatividade espontânea e afeto compartilhado. 
   
_____________

terça-feira, 7 de maio de 2013

Grupo de Estudos C. G. Jung


O grupo de estudos continua a leitura
O LIVRO VERMELHO DE JUNG.
Dias 8 e 22 de maio de 2013 
Vagarosamente, em plena atenção, 
estamos terminando a primeira parte,
 Liber Primus.
Dia 8, quarta-feira, leremos o Capítulo Solução.
 Cada leitura, uma reflexão sobre o texto.
Dias 5 e 19 de junho/
 3, 17 e 31 de julho
sempre das 19h às 20h30.
Liber Secundus

 Ed. Vozes, 2013. Edição sem ilustrações.
Casa das Palmeiras
Rua Sorocaba, 800 – Botafogo (entrada franca).
Nenhuma dificuldade ouvir cada leitura.
Jung nos faz mergulhar, com ele, no espírito das profundezas.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

domingo, 5 de maio de 2013

Imagens do Inconsciente


Rosto de Cristo - lápis cera oleoso, M. E. 

Nossa Senhora - crayon, M. E.

 Guache, R.
Lápis cera oleoso, R.
Dois artistas - mãos criativas
- Acervo da Casa das Palmeiras - 
~~~~~~~~~~~~~~~~~~

     Centenário de Jung –    Imagens do Inconsciente.
Catálogo de Exposição – Museu de Arte Moderna/ 1975.
Nise da Silveira
Introdução
Quem estudar demoradamente série de imagens pintadas por esquizofrênicos ficará convencido de que na produção plástica está o caminho menos difícil, para acesso ao mundo interno desses seres tão herméticos.

Quando à imagem se conjuga a informação verbal, tudo se simplifica bastante. Uma pintura abstrata, com linhas quebradas justapostas cerradamente, foi traduzida pelo autor, como representação da ambição.
A mesma pessoa em pintura a que deu o nome de “árvore das emoções” revelou código de significação das cores que poderá servir de guia no estudo de suas pinturas; para ele amarelo é glória, rosa, amor; branco, ânsia; marrom, paixão; azul profundo, ciúme. Sem a pintura seria pouco provável descobrir-se que no íntimo daquele homem de aspecto humilde e face à primeira vista impassível permanecessem guardadas secretas ambições nem que no seu mundo interno tivesse raízes uma árvore de intensas emoções.

A pintura revelará muito sobre a maneira como o individuo apreende as coisas, sobre sua visão do mundo. Esta visão depende, em principio, de suas vivências do espaço. A semiologia psiquiátrica tradicional é muito pobre na investigação das perturbações das vivências do espaço. É necessário reconhecer no espaço dimensões subjetivas que o farão parecer claro ou escuro (E.Minkowski), no espaço claro (não se trata de luz física) há distância, há espaço vazio, livre, entre os objetos que se apresentam com suas delimitações nítidas, no espaço escuro, também não se trata de luz física, mas de uma sensação de envolvimento, do individuo sentir-se apertado, oprimido pela obscuricidade, os objetos de tanto estarem próximos imbricam-se, interpenetram-se, resultando daí uma visão caótica do mundo, o estudo atento dos casos de pintura de esquizofrênicos levará o pesquisador a verificar que não está diante de rabiscos tumultuosos lançados a esmo que lhe permitam usar as etiquetas de “deterioração” ou de “demência”, mas de um caos em sentido bíblico, ou seja, da massa confusa de onde todas as coisas tiveram origem.

É comovedor acompanhar, através de centenas de pinturas, os esforços enormes que um homem faz para retirar os objetos do caos, pinçá-los por assim dizer, enquadrá-los para prendê-los, até conseguir dispô-los em arranjos bem próximos daqueles exigidos na faixa da realidade. É o que chamamos a busca do espaço cotidiano.

Até ai nos movemos em áreas bastante próximas do consciente, mas não têm medida as profundidades da psique que a produção plástica livre de esquizofrênicos nos poderá fazer vislumbrar.

Fragmentado o ego, desorganizadas as funções de orientação do consciente, caídos os diques que mantinham o inconsciente a distância, revela-se a psique subterrânea, deixando descoberta sua estrutura básica e permitindo que se tornem perceptíveis seus processos arcaicos de funcionamento dos quais se originam os temas míticos (mitologemas).

Foi precisamente a experiência com esquizofrênicos que levou Jung para além das camadas superficiais do inconsciente, dos conteúdos reprimidos que constituem o principal material de trabalho na análise de neuróticos, conduzindo-o a regiões da psique ainda inexploradas.

Médico psiquiatra do hospital Burgholzli, Zurique, no ano de 1906, Jung observou o caso de um esquizofrênico paranóide: dizia o doente que, se movesse a cabeça de um lado para outro olhando o sol, o pênis do sol também se movia e esse movimento era a origem do vento. Mais tarde, Jung encontrou na descrição de visões de adeptos de mitra, publicadas pela primeira vez em 1910, a mesma imagem, a mesma ideia. ”E será visto o chamado tubo, origem do vento predominante. Ver-se-á no disco do sol algo parecido com um tubo, suspenso. E na direção das regiões do ocidente é como se soprasse um vento do leste infinito. Mas se outro vento predominar das regiões do oriente ver-se-á da mesma maneira o tubo voltar-se para aquela direção”. Num hospital psiquiátrico de Washington, um internado negro, inculto, contou a Jung um sonho no qual era submetido ao castigo de Ixion, personagem de mitologia grega condenada por Zeus a girar eternamente amarrado a uma roda de fogo.

“Essas e outras experiências semelhantes foram suficientes para indicar-me a solução do problema: não se tratava de hereditariedade racial especifica, mas de uma característica humana universal. Não se tratava tampouco de ideias herdadas, mas de uma disposição funcional para produzir representações semelhantes ou análogas. A esta disposição dei mais tarde a denominação de arquétipo”. (c.w.5,102).

Pesquisas posteriores continuaram a trazer confirmação para as observações iniciais. Em estudo sobre a esquizofrenia, publicado em 1957, Jung escreve: “Os sintomas específicos da esquizofrenia, na aparência, são caóticos e sem sentido. Entretanto, examinados em profundeza, caracterizam-se, como certos sonhos, por associações primitivas ou arcaicas estreitamente afins com temas mitológicos”. (c.w.3,261).

Foi, portanto da experiência clinica que Jung deduziu os conceitos de inconsciente coletivo e de arquétipo, importantíssimos para a compreensão da própria natureza da psique.

Para espanto nosso, na produção plástica livre de esquizofrênicos que frequentavam os ateliers de pintura e de modelagem da seção de terapêutica ocupacional, no Centro Psiquiátrico Pedro Segundo, surgia imagens que não se deixavam conectar diretamente com a problemática individual de seus autores, mas estranhamente transbordavam para temas mitológicos. Esses documentos pertencem ao Museu de Imagens do Inconsciente e alguns dentre eles podem ser vistos na exposição ora apresentada.

Uma série de pinturas mostra a metamorfose de mulher em flor, É réplica do drama de Dafne, mítica exemplificação da condição de filha tão estreitamente fixada à mãe que seus próprios instintos não lograram desenvolver-se permitindo-lhe ir ao encontro do homem. Ela recua, e a mãe dominadora transforma-a em flor. Outra série pintada por sapateiro inculto apresenta surpreendentes analogias com temas do mito de dionysos. Os motivos são mulheres com cabeça de vaca ou dançando, o bode, o sátiro, uvas, velhos barbudos semelhantes ás representações arcaicas daquele deus. Nos desenhos de outro autor aparecem também o bode, o sátiro, o cacho de uvas nas mãos de um homem jovem conforme é figurado o dionysos menos antigo.

O mito universal do dragão baleia está aqui representado por três autores. Encontro do navegante com o monstro marinho, fuga diante da baleia voraz, a vivência de ser engolido, de ser levado para o fundo das águas. Não ocorre volta à luz do sol segundo acontece ao herói do mito. O homem é lançado pela baleia num país encantado na profundeza do mar (esquizofrenia).

Povoam o acervo do Museu de Imagens do Inconsciente os mais estranhos seres místicos e animais fabulosos, muitas vezes difíceis de correlacionar a suas matrizes arquetípicas por se apresentarem em abundância tumultuosa, misturarem-se, condensarem-se entre si.

O inconsciente junguiano é ilimitado e indeterminado. Daí o aspecto cósmico das imagens arquetípicas assinalado por Jung, suas analogias solares, lunares, estrelares, telúricas.

Nos delírios dos psicóticos e na sua produção plástica são muito comuns os temas de comunicação com os astros. Mergulhados na profundeza do inconsciente, acham-se mergulhados na totalidade universal, onde todas as coisas interligam-se sem descontinuidade. Um exemplo demonstrativo são três pinturas de Engenho de Dentro que representam o Sol provido de um longo tubo. Ressalta a analogia dessas imagens com a alucinação do doente de Jung, referida acima, e com as visões de adeptos de Mitra, nas quais os movimentos do tubo do Sol são a origem do vento. Como único comentário as suas três pinturas, o autor disse: ”o sopro do meu nariz muda qualquer circunstância”. Ele transpõe para o nível cósmico sua problemática individual. Identifica-se ao Sol e seu sopro é o próprio vento capaz de produzir poderosos efeitos.

O visitante que tiver disposições para maravilhar-se encontrará na série de pinturas cósmicas desta exposição ainda muitos outros motivos de perplexidade.

Investigando durante longos anos produtos da atividade inconsciente em sonhos, fantasias, delírios, Jung observou a recorrência constante de certas situações e de certas figuras. Apresentavam-se personificações de componentes psíquicos fundamentais tão típicos que Jung lhe deu nomes: sombra, anima, animus, velho sábio, mãe primordial, jovem divina, herói, criança.

Nas coleções do Museu de Imagens do Inconsciente há numerosísimos exemplos de tais personificações. E nesta exposição muitas delas encontram-se presentes, agrupadas segundo a terminologia junguiana.

No grupo das animas, impressionam as imagens com aspecto de seres élficos, representantes de um estágio ainda pouco diferenciado do principio feminino. Jung diz que “a anima é o próprio arquétipo da vida” e que  “o verde, cor da vida, lhe convém adequadamente”. Tem as faces verdes várias imagens da anima que se configuram em Engenho de Dentro.

Dentre o numeroso grupo das deusas-mãe apenas faremos referência a uma delas. Vale a pena procurar vê-la. É mulher de estrutura enorme, toda branca, repousando os pés sobre segmento do globo terrestre, talvez sobre o mar, e tocando com a cabeça segmento da esfera da Lua. Sustenta nas mãos crescente lunar. O fundo da pintura é a cartolina cinzenta, não pintada, dando ideia do espaço infinito. Solta no espaço destaca-se uma mancha negra onde o autor escreveu: Deus minha mãe. Está imagem dá testemunho da historicidade da psique. Aí vemos erguer-se do fundo do templo a grande deusa arcaica, deusa da terra e deusa do céu. A inscrição sobre a mancha negra não deixa lugar a dúvidas. Trata-se da divindade suprema, Deus-mãe, conceito inteiramente estranho a um homem contemporâneo.

A pintura tornará visível a atividade obscura das forças instintivas que se opõem à desagregação psíquica.

Algumas vezes essa atividade exprime-se através da elaboração de verdadeiros rituais, na tentativa do erguer barreiras que detenham as irrupções do inconsciente. Rituais onde contracenam anima e grande mãe; rituais com serpentes, símbolos de perigosas pulsões, rituais de apaziguamento de divindades terrificantes; rituais de sacrifício do animal, isto é da natureza animal do homem; rituais do fogo e da morte. Observe-se na série dos rituais a predominância de símbolos pagãos. Quando aparecem símbolos cristãos acham-se sempre simultaneamente presentes representações de religiões antigas.

Outra maneira, muito mais frequente, de se tornarem manifestas as defesas instintivas que se opõem á desordem da psique será por intermédio de imagens do círculo. Irregulares algumas, outras quase perfeitas, seja que constituam sozinhas o tema da pintura ou apareçam aqui e ali, ao lado de outros motivos, a constância de sua presença fere a atenção do mais desatento dos observadores.

Jung estudou durante muitos anos essas imagens que surgiam espontaneamente em sonhos, situações conflitivas, estados neuróticos, esquizofrenia. E chegou à conclusão de que funcionavam como “círculos mágicos” (mandalas), defesas visando impedir a invasão de conteúdos do inconsciente demasiado perturbadores.

O acervo do Museu de Imagens do Inconsciente possui centenas de mandalas dos mais variados tipos. Muitas dentre elas podem ser apreciadas nesta exposição: sob as formas de estrela, semicírculos que se tocam pela convexidade em vez de se fecharem, cruz, espiral, labirinto, derivações do quatro e seus múltiplos, ou do três e do cinco. Visões de conjunto da situação psíquica do individuo. Visões do cosmos, tal a mandala “o planetário de deus”, na denominação de seu autor.

A construção espontânea dessas formas, por mais perturbadas que sejam, visa sempre ordenar elementos díspares ou opostos em torno de um centro, numa mobilização de forças instintivas que tendem a compensar estados de confusão e de dissociação.

Provavelmente perguntar-se-á agora: a objetivação de imagens do inconsciente, por meio da pintura, terá valor terapêutico?

Quando se trata de neuróticos ou de indivíduos normais em trabalho de análise, Jung insiste na importância de ser dada forma às imagens internas pela pintura. Essas imagens “produzem eficácia viva sobre o individuo”, além de facilitarem o indispensável confronto entre consciente e conteúdos do inconsciente no curso do processo de individuação.

Entretanto, desde que o ego esteja gravemente atingido, segundo ocorre na esquizofrenia, a situação modifica-se. O campo do consciente é invadido por fatores impessoais carregados de dinamismo extraordinariamente forte que arrebentam as fronteiras do ego e se apossam do individuo. Ele é possuído por esses fatores, vivencia-os, mas não os elabora. O caráter patológico frisa Jung, não reside nos conteúdos emergentes da estrutura básica de psique (inconsciente coletivo). Estes conteúdos são sempre ”material sadio” (c.w.12,33), Vamos encontrá-los em expressões da alma coletiva como os mitos, os contos de fada, os dogmas das religiões, e também em realizações individuais-obras de arte, concepções filosóficas, teorias científicas.

O que faz a doença é a dissociação do consciente que perde o controle sobre o inconsciente (c.w. 9,39).

Apesar de reconhecer todas essas dificuldades, Jung admite que a pintura possa ter função terapêutica mesmo na esquizofrenia. Em trabalho de 1957 lê-se: “o efeito deste método (pintura) é evidentemente devido ao fato de que a impressão caótica ou aterrorizante é substituída pela pintura que, por assim dizer, a recobre. O tremendum é exorcizado pelas imagens pintadas, torna-se inofensivo e familiar e, em qualquer oportunidade que o doente recorde a vivência e seus ameaçadores efeitos emocionais, a pintura interpõe-se  entre ele e a experiência, e assim mantém o terror a distância’ (c.w. 3,250).

Muitas e muitas vezes testemunhamos a despontencialização de imagens aterrorizantes por meio da pintura. Nesta exposição, por exemplo, pode ser vista gigantesca mulher com cabeça de cão (a mãe terrível Hécate), imagem alucinatória que enchia de pavor uma de nossas doentes, pintando-a repetidas vezes, desgastou-se a carga energética de imagem que dentro de algum tempo esvaiu-se. Desintentificações vegetais e animais processaram-se passo a passo em série de imagens. Opostos aproximaram-se, com o resultado de paralelas melhoras clínicas.

Em setembro de 1957 foi organizada uma grande exposição de pinturas de esquizofrênicos, vindas de vários países, por ocasião do 2º Congresso Internacional de Psiquiatria, reunidos em Zurique. Levamos a contribuição de nosso Museu que dispunha, naquela data, de um acervo pequeno em relação aos aproximadamente noventa mil documentos plásticos que hoje possui. C.G. Jung foi o primeiro visitante da exposição brasileira. Examinou as imagens vindas de terra tão distante e comentou-as com o mais vivo interesse.

Assim, é um privilégio para o Museu de Imagens do Inconsciente apresentar ao público, nos salões do Museu de Arte Moderna, quando se comemora o centenário de nascimento do mestre, esta coleção de imagens pintadas livremente num hospital psiquiátrico do Rio de Janeiro, documentação crua, sem qualquer retoque ou influência cultural, e que  por isso mesmo confirma, evidencia, suas descobertas referentes à estrutura básica da psique.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~